Jovem curado de raiva humana vai para casa

O adolescente Marciano Menezes da Silva, de 16 anos, é o primeiro paciente brasileiro a se curar da raiva, e terceiro no mundo. Ele teve alta ontem, depois de passar onze meses internado no Hospital Universitário Osvaldo Cruz, onde chegou em estado grave por não ter sido devidamente medicado na cidade sertaneja de Floresta. Lá, o jovem havia sido mordido por um morcego enquanto dormia. Marciano chegou a passar quase três meses em coma induzido e necessitando de aparelhos para respirar. Ele não tem mais o vírus da doença, seus sinais vitais estão preservados, mas restaram algumas sequelas motoras. Por esse motivo, ele deverá voltar ao hospital para uma cirurgia nos quadris, segundo o infectologista Gustavo Trindade, chefe da equipe médica que cuidou do menino. O paciente já fala, embora com alguma dificuldade, e movimenta os braços, sem precisar mais de ajuda para comer. Ontem, ele só pensava em chegar em casa para ver o resto da família e se livrar da comida pouco condimentada do hospital. “Quero ver meus sete irmãos, meu cachorro, e comer macarronada, carne de bode e rubacão”, disse, referindo-se a proteína animal mais consumida no sertão e ao prato muito comum no semi-árido, onde é também chamado de baião de dois (feijão cozido juntamente com arroz). Mas a doença atrofiou a musculatura das pernas e ele precisa de cadeira de rodas. Ganhou ontem uma de presente ao sair do hospital. O tratamento do garoto foi acompanhado pelo cientista Rodney Willoughby, do Hospital Infantil de Wiscousin. Ele foi o primeiro médico a curar uma pessoa portadora da raiva, uma menina, hoje com vida normal. Ele é autor do primeiro protocolo para tratamento da hidrofobia. Com o resultado obtido com Marciano, também foi oficializado o primeiro protocolo no Brasil de como proceder na manifestação da doença. Marciano poderia ter se livrado da doença se tivesse sido corretamente assistido. Logo ao ser atacada, a pessoa deve tomar vacina e soro contra a hidrofobia. Mas o menino só recebeu a vacina.